
Djokovic não tem medo de erros não forçados. Digam o que quiserem, fãs de Federer e Nadal. Carisma fabricado, busca exagerada por atenção, falta de borogodó, necessidade de aprovação. Ainda que por vezes injustas, tais críticas podem ser levantadas em razão de comportamentos expressados em situações específicas. Agora, só não falem que o tenista sérvio é um sujeito que não se arrisca.
Ao alegar conflito de interesses, Nole bateu de frente com a ATP e criou uma associação de tenistas profissionais com voz ativa no circuito. Sem entrar no mérito da questão, em si, se posicionou durante a pandemia e bancou toda a polêmica que veio em decorrência de sua escolha. Mesmo com todo o rancor histórico entre os dois países, contratou o croata Goran Ivanisevic como seu treinador. Foi para a frente, melhorou saque e rede, mesmo ganhando tudo com um estilo de jogo baseado na consistência dos golpes de fundo.


A aposta de Djokovic para 2025 foi trazer para o seu box um ex-rival que, apesar do retrospecto amplamente favorável, o venceu em partidas dolorosas – como as finais do US Open e de Wimbledon, ou a semi dos Jogos Olímpicos. Sir Andy Murray dividia com Nole algumas características que fazem excelentes tenistas: primoroso jogo de pernas, inteligência no momento de competir, apurados contra-ataques, capacidade de adaptação rápida, entre outras.
No entanto, o que mais aproximava o sérvio do britânico era a incrível habilidade de fazer boas escolhas durante os pontos – sobretudo os mais importantes, aqueles que definem qual dos dois tenistas sairá vitorioso em uma partida. Podem reparar: raramente você verá Djoko arriscar uma paralela aleatória em um tiebreak, em um 40 iguais. Como um analista de risco faria em um cenário extremo, sempre decide pela bola mais provável para aquela situação. Murray, da mesma maneira, entende que tênis é sobre estatísticas. Dois QIs tenísticos elevadíssimos.

E qual é a chance de Murray dar certo como treinador de Djokovic?
A aposta em lendas do esporte como treinadores já deu samba em outros carnavais. Djoko venceu Grand Slams sob as batutas de Becker e Ivanisevic. Federer foi feliz ao lado de Edberg e Nadal levantou canecos importantes com Moyá. O próprio escocês só desencantou com o apoio do gigante Lendl.
Pode dar errado? Pode. Dificilmente por problemas com egos ou algo do tipo. Muito mais provável pela juventude e pelo ímpeto de seus novos rivais, Sinner e Alcaraz (e, tomara, João Fonseca). Ou até pelo peso da implacável natureza no corpo do atleta veterano que já é. Não é segredo que Djoko mira nos Grand Slams, seu maior objetivo. No Australian Open, parecia caminhar para o título quando foi vencido por uma lesão às portas de uma semifinal. Nos demais torneios da temporada, aqueles que já fazem pouco sentido para seu currículo, a impressão que deixou em quadra foi a de que faltava motivação para o desafio sobretudo mental que uma partida de tênis de alto nível impõe.
Apesar de tudo o que pesa contra, a parceria pode reverter um início de temporada frustrante e fazer a maré mudar? É evidente que sim. Ou alguém ainda é maluco de apostar contra um menino que sobreviveu a guerras e, principalmente, à melhor geração que já pisou em uma quadra de tênis, para se tornar uma lenda do esporte? As respostas para tantos questionamentos provavelmente só virão com a temporada de 2025 finalizada.
Separe sua pipoca (ou seu fish and chips).
