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A coragem de Naomi Osaka, uma mãe com uma raquete nas mãos

Em 2018, Naomi Osaka surgiu como um meteoro raro na atmosfera do circuito da WTA. Conquistou Indian Wells no primeiro semestre e já preparou o público para algo maior – uma vitória maiúscula sobre ninguém menos que Serena Williams na final do US Open.

A norte-americana foi pouco generosa com o momento de glória da japonesa e quase roubou a cena com uma discussão constrangedora com o árbitro Carlos Ramos. Mas não tinha jeito: Osaka já havia conquistado os amantes do tênis com seu ar despretensioso, quase pedindo desculpas pelo próprio sucesso.

Descendente de japoneses e haitianos, de maneira instantânea virou um fenômeno do marketing esportivo, transitando com muita naturalidade entre o mercado oriental (que se alimenta vorazmente do mundo da moda) e a cultura negra, tão forte nos Estados Unidos (outro gigante do consumo, aliás). Depois de escalar o ranking da WTA até o topo, trocou a Adidas pela Nike em um acordo de cifras estratosféricas e acelerou sem olhar para trás.

Quando já contava quatro títulos de Grand Slam em sua biografia, Osaka mostrou a mesma coragem enfrentada no episódio com Serena no US Open e freou a locomotiva de sua carreira para descer em um ponto delicadíssimo (principalmente para uma atleta ainda com muita lenha para queimar): o projeto de se tornar mãe.

O tempo no universo do tênis é cruel. Nunca se sabe quando haverá uma entressafra de talentos ou surgirá um prodígio que dominará o circuito. Atletas como Zverev, Tsitsipas e Ruud certamente esperavam escrever seus nomes na História quando chegasse a hora das aposentadorias de Federer, Nadal e Djokovic.

O que eles não contavam era com o aparecimento tão repentino de Sinner e Alcaraz. Talvez por isso incomode tanto a postura de um Kyrgios que age como se fosse ganhar um Grand Slam quando bem entender.

Podem acontecer vacilos dos grandes nomes?

Evidentemente – e as campanhas de Gaudio em Roland Garros, Johansson no Aberto da Austrália e Cilic no US Open estão aí para comprovar. Mas são a exceção da exceção, sabemos bem.

Dentro dessa dinâmica muito particular de acontecimentos, com reis e rainhas coroados e depostos sem aviso prévio, decidir por uma pausa de prazo indefinido é um risco e tanto.

Nas últimas décadas, apenas Kim Clijsters conseguiu o feito de se sagrar novamente campeã de Grand Slam depois de ser mãe. Antes dela, alcançaram a proeza as australianas Margaret Court e Evonne Goolagong, lá nos idos das décadas de 70 e 80 – quando o esporte era outro, inegavelmente.

Os números de Osaka em 2024, temporada de retorno após o nascimento de sua filha, não foram animadores. Naomi não passou das quartas-de-final em nenhum torneio que disputou.

Todavia, curiosamente em Roland Garros, sobre um piso no qual sempre se sentiu desconfortável, foi protagonista de uma das melhores partidas do campeonato, tendo levado a campeã Swiatek ao limite na segunda rodada.

Em 2025, Osaka teve um início promissor com o vice-campeonato no WTA 250 de Auckland, na Nova Zelândia.

No entanto, na final foi obrigada a desistir depois do primeiro set, com lesão abdominal – a mesma que a forçou a abandonar o Australian Open, duas semanas depois, em partida de terceira rodada contra Belinda Bencic, outra conhecida mamãe do circuito da WTA.

Voltou apenas em Indian Wells, com derrota na primeira rodada, e na sequência apresentou um tênis melhor no Miami Open, ao vencer três partida e cair somente diante da italiana Jasmine Paolini, top 10 no ranking mundial.

Conseguirá sorte melhor no restante da temporada?

Difícil prever. Mas com toda a bravura que marca sua trajetória, uma coisa é certa: torcida, Naomi Osaka terá – e não será pouca.